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Satisfação do Profi ssional de Contabilidade do Estado do Rio de Janeiro quanto à Qualidade de Vida no Trabalho – QVT (2014-2015):
Uma Análise por PLS-SEM com base no Modelo Dimensional de Walton
Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 18, n. 67, p. 5-14, set./dez. 2016 5
Pensar Contábil
CRCRJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ
1 PPGCC/UFRJ – Programa de Pós-Graduação em Ciências Contábeis, da Universidade Federal do Rio de Janeiro – Rio de janeiro – RJ – CEP: 22.290-902
2 FACC/UFRJ – Faculdade de Administração e Ciências Contábeis, da Universidade Federal do Rio de Janeiro – Rio de Janeiro – RJ – CEP: 22.290-240
3 MACKENZIE-RIO – Faculdade Presbiteriana Mackenzie Rio – Rio de Janeiro – RJ – CEP: 20061-003
4 UVA – Universidade Veiga de Almeida – Rio de Janeiro – RJ – CEP: 20271-020
5 UCAM – Universidade Candido Mendes – Campos dos Goitacazes – RJ – CEP: 28030-335
6 FUCAPE – Fundação Instituto Capixaba de Pesquisas em Contabilidade, Economia e Finanças – Vitória – ES – CEP: 29075-505
7 COPPE/UFRJ – COPPE/UFRJ – Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia, da Universidade Federal do Rio de Janeiro – Cidade Universitária – Rio de
Janeiro – RJ – CEP: 21941-450
8 FEA/USP – FEA/USP –Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo – São Paulo/SP – CEP: 05508-010
6 FUCAPE – Fundação Instituto Capixaba de Pesquisas em Contabilidade, Economia e Finanças - Vitória - ES – CEP: 29075-505
7 COPPE/UFRJ – COPPE/UFRJ – Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia, da Universidade Federal do Rio de Janeiro – Cidade Universitária – Rio de
Janeiro – RJ – CEP: 21941-450
8 FEA/USP – FEA/USP – Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo – São Paulo/SP – CEP: 05508-010
Satisfação do Profi ssional de Contabilidade do Estado
do Rio de Janeiro quanto à Qualidade de Vida no
Trabalho – QVT (2014-2015): Uma Análise por PLS-SEM
com base no Modelo Dimensional de Walton
Rosângela M. Ayres
Rio de Janeiro - RJ
Doutoranda em Ciências Contábeis no PPGCC/UFRJ1
Mestre em Ciências Contábeis pela FACC/UFRJ2
Pós-graduada em Planejamento Tributário/Mackenzie-Rio3
Pós-graduada em MBA de Gestão de Serviços/UVA4
Pós-graduada em Finanças Corporativas/UCAM5
ayres.rosangela@gmail.com
João Carlos Hipólito Bernardes do Nascimento
Rio de Janeiro - RJ
Doutorando em Ciências Contábeis pela UFRJ1
Mestre em Ciências Contábeis pela FUCAPE Business School6
joaohipolito@ufrj.br
Marcelo Álvaro da S. Macedo
Rio de Janeiro - RJ
Doutor em Engenharia de Produção pela COPPE/UFRJ7
Pós-Doutorado em Controladoria e Contabilidade pela FEA/USP8
Professor do PPGCC/UFRJ1
malvaro.facc.ufrj@gmail.com
(0,26/1% sig.); Uso da Capacidade (0,19/2% sig.) e Condições de
Trabalho (0,17/2% sig.). As evidências permitem concluir que esses
profi ssionais buscam acima de tudo o sentimento de valorização
profi ssional, por meio de compensação adequada, aplicação de
regras justas, oportunidades de crescimento, uso de sua capacida-
de e melhores condições de trabalho. Conclui-se também que as
mulheres se sentem menos integradas socialmente, assim, como
os profi ssionais que atuam na iniciativa privada. Espera-se que as
conclusões deste estudo contribuam para a elaboração e aplicação
de uma agenda de pesquisa, assim como, de políticas que busquem
desenvolver a QVT desses profi ssionais.
Palavras-chave: QVT. Satisfação. Contador. Modelo Di-mensional
de Walton. PLS-SEM.
Abstract
The aim of this study is to evaluate satisfaction with the Quality
of Work Life (QWL) of accounting professional from State of Rio de
Janeiro in the biennium 2014-2015, using Walton Dimensional Model
as theoretical basis with probabilistic collection through a closed
questionnaire (01 open question). Four analysis were performed:(1)
identifi cation of the dimension selected as the most relevant; (2)
descriptive analysis, (mode, median and mean,); (3) Partial Least
Squares-Structural Equation Modeling (PLS-SEM) and (4) analysis of
the comments and impressions. It was identifi ed that the study in
accounting QVT is incipient, suggesting the opportunity to develop a
research agenda. The results show that adequate and fair compen-
sation was considered the most relevant dimension; the descriptive
analysis identifi es moderate QWL satisfaction with median and mode
3 and mean 3.2 (1-5 interval scale). By PLS-SEM, the relevant di-
mensions are: constitutionalism (0.35/1% sig.); opportunity (0.26/1%
sig.) use of capacity (0.19/2% sig.) work conditions (0.17/2% sig.).
The evidences allows the conclusion that these professionals seek,
above all, the sense of professional valorization through adequate
compensation, application of fair rules, growth opportunities, use
of their capacity and better working conditions. It also follows that
women feel less socially integrated, as well as, professionals from
private sector. It is hoped that the fi ndings of this study contribute to
the elaboration and implementation of a research agenda, as well as,
policies that seek to develop QVT of these professionals.
Keywords: QVT. Satisfaction. Accountant. Walton Dimensional Model.
PLS-SEM.
Artigo recebido em 17/08/2016 e aceito em 06/10/2016
Resumo
O objetivo desse estudo é avaliar a satisfação quanto à Qualidade
de Vida no Trabalho - QVT do profi ssional de contabilidade do Estado
do Rio de Janeiro - RJ no biênio 2014-2015, tendo como base teó-
rica o Modelo Dimensional de Walton com coleta probabilística por
questionário fechado (01 questão aberta). Foram desenvolvidas
quatro análises: (1) identifi cação da dimensão selecionada como a
mais relevante; (2) análise descritiva (moda, mediana e média); (3)
modelagem de equação estrutural por mínimos quadrados parciais
(PLS-SEM) e (4) análise dos comentários e impressões. Foi identifi -
cado que o estudo QVT em contabilidade é incipiente, sugerindo a
oportunidade para desenvolvimento de uma agenda de pesquisa. Os
resultados mostraram que a dimensão considerada mais relevante
foi a compensação adequada e justa; quanto à análise descritiva,
identifi ca-se satisfação QVT moderada com moda e mediana 3 e
a média 3,2 (escala intervalar 1-5). Pelo PLS-SEM, as dimensões
relevantes são: Constitucionalismo (0,35/1% sig.), Oportunidade
1.º classifi cado na 17.ª Edição do Prêmio Contador Geraldo de La Rocque 2016
Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 18, n. 67, p. 5-14, set./dez. 2016
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Pensar Contábil CRCRJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ
Rosângela M. Ayres, João Carlos Hipólito Bernardes do Nascimento Marcelo Álvaro da S. Macedo
1. Introdução
Nos últimos anos, o profi ssional de contabilidade (técnico/
contador) tem assumido atividades com maior responsabilidade e
complexidade. Em contrapartida, a mídia tem destacado a profi s-
são como uma das melhores, com expectativa de manter-se assim
no futuro. A despeito do exposto, pouco se tem discutido sobre
a percepção desses profi ssionais quanto à própria Qualidade de
Vida no Trabalho (QVT). Este estudo contribui de forma relevan-
te e inovadora porque, tendo como objeto a satisfação QVT do
profi ssional de contabilidade neste contexto, busca-se responder
a seguinte questão: Qual é a satisfação do profi ssional de contabi-
lidade quanto à qualidade de vida no trabalho em relação ao biênio
2014-2015?
O interesse pela satisfação do trabalhador quanto à QVT au-
mentou quando nos, Estados Unidos, foi identifi cado que a redu-
ção contínua da produtividade poderia ser decorrente do nível de
satisfação QVT. Essa corrente teórica tem recebido contribuições
de vários pensadores, tendo especial importância, às teorias sobre
aferição de QVT e os seus determinantes, especialmente o modelo
de Walton (1973), o primeiro a ser desenvolvido com este intuito.
Dentre os motivos para a escolha do profi ssional em contabilidade
como objeto de pesquisa, têm-se as recentes e frequentes altera-
ções decorrentes da convergência ao modelo internacional e da
implantação das fases do Sistema Público de Escrituração Digital
– SPED (ambos com potencial de impactar na QVT do profi ssional
de contabilidade).
Assim, com o apoio do CRC-RJ para divulgação, o questionário
com dezoito questões fechadas e uma aberta foi respondido por 184
profi ssionais de contabilidade do Estado do Rio de Janeiro. Adota-se
uma abordagem predominantemente quantitativa, usando-se como
técnica de análise a modelagem de equações estruturais por míni-
mos quadrados parciais (Partial Least Squares Structural Equation
Modeling – PLS-SEM). Os resultados evidenciam a existência de
satisfação moderada por parte do profi ssional de contabilidade
do Rio de Janeiro em relação à QVT, sendo as dimensões “cons-
titucionalismo”, “Oportunidade crescimento contínuo e segurança”,
“Oportunidade imediata de uso e desenvolvimento da capacidade
humana” e “Condições de trabalho”. Por fi m, por meio da Análise
Multigrupos PLS-SEM, notou-se ainda que profi ssionais que atuam
na iniciativa pública e os profi ssionais do gênero masculino apre-
sentam maior nível de satisfação em relação à integração social em
relação a vida profi ssional do àqueles que atuam na iniciativa
O presente estudo está organizado nesta (1) Introdução, seguida
da (2) Revisão da Literatura, onde são apresentadas: as bases teóri-
cas sobre QVT, o Modelo de Walton e alguns estudos sobre o tema;
(3) pela metodologia, pelos (4) Resultados, e pelas (5) Conclusões.
2. Revisão da Literatura
2.1 Qualidade de Vida no Trabalho – QVT
A QVT (Quality of Work Life - QWL) explica a extensão da relação
entre indivíduos e a respectiva percepção de vida em relação ao seu
trabalho (SURIENTY et al., 2013). Apesar de não existir uma defi nição
formal de QVT, estudiosos do assunto concordam que se trata de um
constructo de bem-estar de trabalhadores, sendo distinto do conceito
de satisfação no trabalho (CHAMPOUX, 1981; DAVIS; CHERNS, 1975;
EFRATY; SIRGY, 1988; HACKMAN; SUTTLE, 1977; KABANOFF,
1980; KAHN, 1981; LAWLER,1982; NEAR et al., 1980; QUINN AND
SHEPHARD, 1974; QUINN AND STAINES, 1979; STAINES, 1980 apud
SIRGY et al., 2001). Alguns estudos sobre QVT abordam os impactos
relevantes sobre o comportamento do profi ssional, tais como: satis-
fação, envolvimento, esforço, desempenho; intenção de abandono
(CARTER et al., 1990; EFRATY; SIRGY,1990; EFRATY et al., 1991;
LEWELLYN; WIBKER, 1990 apud SIRGY et al., 2001).
Walton, em seu artigo Quality of Working Life: What Is It? publica-
do em 1973, foi o primeiro a conceituar QVT, propondo um modelo
com oito dimensões para a averiguação: (1) compensação adequada
e justa; (2) condições de trabalho seguras e saudáveis, (3) oportuni-
dade imediata para utilização e desenvolvimento das capacidades
humanas, (4) oportunidade de crescimento e segurança contínuos,
(5) integração social, (6) constitucionalismo, (7) espaço ocupado
pelo trabalho na vida da pessoa, (8) relevância social do trabalho
(SURIENTY et al., 2013, LIMONGI-FRANÇA, 2010). A partir da dé-
cada de setenta, percebe-se uma preocupação maior com QVT. Em
1975, nos Estados Unidos, entra em vigor o National Productivity
and Quality of Working Life Act que enfatiza a necessidade nacional
de identifi car, estudar, revisar ou eliminar leis, regulações, políticas
e procedimentos que afetassem o crescimento da produtividade
e a efi ciência da economia (Estados Unidos, 1975). Em 1978, em
Washington, como parte de um projeto para se entender a impor-
tância da atividade humana na produtividade do país, aconteceu a
conferência Human Perfomance and Productivity: a critical path for
research and policy (FLEISHMAN; DUNNETTE, 2014). No Quadro 1
são listados alguns teóricos e seus respectivos conceitos sobre QVT.
Teórico Conceitos
Trist, 1950 Satisfação/bem-estar do indivíduo, com vistas a um melhor desempenho do mesmo
Walton, 1973 Atendimento de necessidades/aspirações. Responsabilidade social da empresa
Davis e Cherns, 1975 Condições e práticas organizacionais interferindo no bem-estar dos indivíduos.
Hackman e Suttle, 1977 Satisfação de necessidades pessoais, por experiências de trabalho/vida na entidade
Lippitt, 1978 Oportunidades para satisfação de grande variedade de necessidades pessoais
Ginzberg et al., 1979 Humanização do trabalho pela reestruturação do emprego e grupos semiautônomos
Guest, 1979 Processo em que a organização tenta revelar o potencial criativo de seu pessoal.
Westley, 1979 Humanização: busca solucionar problemas gerados pela natureza das organizações
Werther e Davis, 1983 Busca melhorar a QVT, procurando tornar os cargos mais produtivos e satisfatórios
Nadler e Lawler, 1983 Participação na solução de problemas, evolução do trabalho, melhoria no ambiente
Belanger,Gergeron e Petit, 1983 Filosofi a humanista aplicada por meio da introdução de métodos
Huse e Cummings, 1985 Preocupação com o bem-estar do trabalhador e com a efi cácia organizacional
Moraes et al., 1989 Resultante de dimensões básicas da tarefa, relacionado à estados psicológicos
Vieira e Hanashiro, 1990 Condições de trabalho com variáveis comportamentais/ambientais/organizacionais
Bowditch e Buono, 1992 Satisfação de necessidades pessoais através de sua vivência na organização
Rodrigues, 1994 Satisfação e bem-estar do trabalhador na execução de sua tarefa
Oliveira, 1995 Excelência da vida que se deseja e deve ser vivida (visão humanista)
Kanaane, 1995 Interação entre conjuntos de fatores individuais e situacionais (visão holística)
Davis e Newstrom, 1996 Condições favoráveis/desfavoráveis do ambiente de trabalho para os empregados
Fernandes, 1996 Infl uência de fatores físico/tecnológico/sociopsicológico na cultura/clima
Quadro 1: Teóricos e Conceitos QVT
continua
Satisfação do Profi ssional de Contabilidade do Estado do Rio de Janeiro quanto à Qualidade de Vida no Trabalho – QVT (2014-2015):
Uma Análise por PLS-SEM com base no Modelo Dimensional de Walton
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Pensar Contábil
CRCRJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ
Fonte: Adaptado pelos autores com base em Nunes (2012).
Quadro 2: Teóricos e Conceitos QVT
Dimensões Descrição/argumentação
1.
Compensação
adequada e justa
O ímpeto natural para se trabalhar é a remuneração que se tem por esse trabalho, logo, a QVT é afetada pelo quão bem este objetivo é
alcançado. Compensação justa, por exemplo, é um conceito que pode ter diferentes signifi cados para grupos distintos. Portanto, esta
primeira categoria conceitual engloba a adequação da remuneração ao tipo de trabalho desempenhado e também a justiça da compensação
referente à comparação desta compensação em relação à compensação recebida no exercício de outras atividades.
2.
Condições de
trabalho seguras e
saudáveis
A sociedade espera que trabalhadores não sejam expostos a condições físicas ou regimes laborais indevidamente perigosos ou prejudiciais
à saúde. Legisladores e sindicatos têm como objetivo melhorar esses padrões. Como exemplos têm-se o estabelecimento: (1) de jornada
de trabalho razoável com pagamento de prêmio para horas extras trabalhadas; e (2) de limites da faixa etária, principalmente em relação às
atividades potencialmente danosas.
3.
Oportunidade
imediata de uso e
desenvolvimento
da capacidade
humana
Nos mais diversos graus, o trabalho se tornou fracionado, qualifi cado, rigidamente controlado e tendo, em geral, o planejamento separado
da realização. Dessa forma, o trabalho tem se diferenciado no grau em que o profi ssional usa e desenvolve suas habilidades e conhecimento
afetando o seu envolvimento, autoestima e a sensação de desafi o obtido do seu próprio trabalho. São exemplos: a autonomia (o trabalho
permite substancial autonomia e controle próprio?); multi-habilidades (o trabalho permite o aprendizado e a prática de uma série de
competências e habilidades no lugar da aplicação repetitiva de algumas competências?); informação e perspectiva (o trabalhador consegue
informação signifi cativa sobre o processo de trabalho como um todo e os resultados de suas ações de forma a apreciar sua relevância e
consequências de suas ações como base para auto avaliação?); tarefas completas (o trabalho abarca a tarefa inteira, dando signifi cado, ou é
um mero fragmento de uma tarefa?); e planejamento (o trabalho abarca as atividades de planejamento e não só as de implementação?).
4.
Oportunidade
crescimento
contínuo e
segurança
Nesta categoria conceitual, o foco muda para oportunidades na carreira, sendo particularmente importante porque, tanto os trabalhadores
técnicos quanto os administrativos, podem chegar rapidamente no auge de suas carreiras e, por isso, tendo algum tipo de desestímulo.
Por isso, há necessidade de atenção aos seguintes aspectos: desenvolvimento (refere-se à capacidade que as atribuições do trabalho
e educativas têm em contribuir para manter/expandir as capacidades da pessoa, afastando a sensação de obsolescência); aplicação
prospectiva (refere-se a expectativa de uso de habilidades/conhecimentos novos/ampliados com atribuições futuras); oportunidade de
avanço (a possibilidade de oportunidades para avançar na organização/carreira ou de ser reconhecido pelos seus pares, membro da família,
ou associados); e segurança (segurança quanto à empregabilidade ou quanto à renda relacionada ao trabalho).
5.
Integração social
na organização
Como o trabalho e a carreira acontecem no âmbito social de uma organização/carreira, a natureza das relações pessoais toma uma dimensão
de QVT. São destacados os seguintes aspectos: ambiente livre de preconceito (aceitação do trabalhador pelas características relacionadas
ao trabalho/habilidades, sem considerar raça, sexo, credo, origem, estilo de vida e aparência física); igualdade (ausência de estratifi cação no
trabalho em termos de posição social e/ou estrutura hierárquica); mobilidade (a existência de mobilidade ascendente, por exemplo, o percentual
de empregados em qualquer nível que pode ascender para níveis mais elevados); grupos de apoio primário (a participação em grupos de
trabalho presencial marcadas por padrões de ajuda recíproca, apoio sócio-emocional, e afi rmação da singularidade de cada indivíduo);
comunidade (o senso de comunidade no ambiente de trabalho que vão além dos grupos de trabalho presencial); e abertura interpessoal (a forma
como os membros da organização relacionam-se um com outro em relação a suas ideias e sentimentos).
6.
Constitucionalismo
O constitucionalismo refere-se à proteção dos empregados de ações arbitrárias dos empregadores, tendo sido enfatizada no ambiente
laboral pela ação da força sindical. Essa categoria pode ser exemplifi cada nos seguintes aspectos: privacidade (direito a privacidade
pessoal); liberdade de expressão (direito de divergir a superiores abertamente sem receio de represálias); equidade (direito de tratamento
igualitário em todos os sentidos), e processo de direito (governança com base em regras legais em relação a assuntos como igualdade de
oportunidade em todos os aspectos do trabalho, privacidade, divergências).
7. Espaço que o
trabalho ocupa na
vida do trabalha-
dor
A experiência laboral pode causar efeitos positivos/negativos em outras esferas da vida de um individuo, assim, o conceito de equilíbrio
é um aspecto fundamental nesta categoria conceitual. Diante do exposto, o trabalho deve ter um papel equilibrado na vida do indivíduo,
por exemplo: escala de trabalho, demandas da carreira, requisitos de viagens que comprometa o lazer da família de forma regular, assim
como, promoções que requeiram repetidamente mudanças para outra localidade. Há uma discussão com relação a essa categoria quanto a
identifi cação, se esta é causa ou efeito. É argumentado que a organização pode impor um ritmo que force o indivíduo a se afastar da família,
mas, por outro lado, pode ser consequência quando o indivíduo se impõe este afastamento, tentando esquivar-se de assumir os papéis e
responsabilidades que lhe caberiam no âmbito familiar.
8. Relevân-cia
social da vida
laboral
Os efeitos positivos/negativos das atividades/ações da empregadora podem ser questões importantes para os trabalhadores, como por exemplo,
empregadoras que agem de forma socialmente irresponsável têm impacto nas carreiras e na autoestima de seus empregados, levantando as
seguintes questões sobre responsabilidade social: será que o trabalhador percebe a organização como socialmente responsável (Ex.: nos seus
produtos, na eliminação de resíduos, nas técnicas de marketing,nas práticas de contratação, na participação em campanhas políticas?)
Fonte: Adaptado pelos autores com base em Walton (1973; 1975).
Para este estudo, é utilizada como base teórica, o Modelo
de Walton porque: (1) é simples e conciso (oito dimensões) e ao
mesmo tempo (2) abrangente; sendo bastante aplicado, e, assim,
adequado aos objeto e objetivos deste estudo. Adicionalmente,
buscando-se conciliar (1) a premissa de que o contador tem pou-
ca disponibilidade de tempo e (2) a necessidade de ter volume de
respostas; no presente estudo, se utiliza o instrumento adaptado
por Timossi, Pedroso, Francisco e Pilatti (2008) com base no
Modelo de Walton.
2.2 Modelo Dimensional QVT de Walton
Richard Eugene Walton, da escola de negócio da Harvard, esta-
belece um modelo teórico com oito categorias conceituais (dimen-
sões) como principais critérios para avaliação da QVT. Este modelo
foi apresentado em 1972 no Planning Committee for the International
Conference on the Quality of Working Life. Em 1973, foi publicado no
artigo Quality of Working Life: what is it? e em 1975, no livro “Quality
of Working Life” organizado por Louis E. Davis e Albert B. Chens. O
quadro a seguir resume as oito dimensões de Walton.
Teórico Conceitos
Burigo, 1997 Humanização das relações de trabalho: produtividade com satisfação do trabalhador
Bom-Sucesso, 1998 Cultura individual, infraestrutura familiar, relações/confl itos, (visão holística)
Albuquerque e Limongi-França, 1998 Diagnóstico e implantação de melhorias gerenciais/tecnológicas/estruturais, dentro/fora do ambiente de trabalho: visa o
desenvolvimento humano
Goulart e Sampaio, 1998 Interferência nos processos mentais/culturais: transformar a cultura organizacional
Dourado e Carvalho 2005 Busca da conciliação entre interesses antagônicos de trabalhadores e patrões
Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 18, n. 67, p. 5-14, set./dez. 2016
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Pensar Contábil CRCRJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ
Rosângela M. Ayres, João Carlos Hipólito Bernardes do Nascimento Marcelo Álvaro da S. Macedo
2.3 Estudos sobre a Qualidade de Vida no Trabalho do
Profi ssional de Contabilidade
Para revisar a literatura, buscou-se no Portal Capes, que é re-
ferência, por estudos com os termos QVT e contabilidade, tendo
como resultado quatro trabalhos, que, mesmo abordando QVT,
não tratavam sobre contabilidade, sendo listados no resultado
pela inclusão de professor/universidade da área de contabilidade.
Igualmente, buscou-se pelos termos em inglês QWL e accounting,
tendo como resultado cinco artigos, sendo somente três sobre
contabilidade: (1) Sirgy et al. (2001) usando a teoria spillover, de-
senvolvem um modelo QVT por meio de duas pesquisas, sendo
uma com empresas de contabilidade; (2) Huang, Lawler e Lei
(2007) estudaram o impacto da QVT na carreira, no compromisso
organizacional e na intenção de demissão de auditores em Taiwan,
concluindo que as dimensões tem efeitos distintos; (3) Surienty
et al. (2013) estudaram a QVT do profi ssional de contabilidade
com quatro fatores (comportamento da chefi a, características do
trabalho, remuneração/benefícios e equilíbrio vida profi ssional/
pessoal) relacionando com a intenção de desligamento em em-
presas de contabilidade da Malásia, concluindo que três fatores
(comportamento da chefi a, características do trabalho e equilíbrio
vida profi ssional/pessoal) têm relação negativa signifi cativa com
a intenção de desligamento, sendo o equilíbrio vida profi ssional/
pessoal o mais signifi cativo. Mas, o fator remuneração/benefícios
não foi signifi cativo, indicando ser menos importante. Surienty et al.
(2013) destacam a importância que o profi ssional contábil tem na
Malásia e que muitos países atraem esses profi ssionais usando a
QVT como fator determinante na decisão de emigração.
Por essas duas buscas, em que nenhum artigo tratando efetiva-
mente de QVT e contabilidade é encontrado e somente três tratan-
do sobre QWL e accounting foram identifi cados no Portal Capes,
a primeira conclusão deste estudo é que há oportunidade para a
criação de uma agenda de pesquisa que busque o desenvolvimento
de trabalhos com o objetivo de estudar a QVT do profi ssional de
contabilidade. Em busca complementar na WEB foram identifi -
cados alguns estudos abordando sobre a QVT do profi ssional de
contabilidade.
Comish, Swindle e Daboval (1994) investigaram a relação entre
confi ança e estresse (estresse: condição física e mental que afeta a
produtividade, efetividade, saúde pessoal e a qualidade do trabalho)
de profi ssionais em empresas contábeis, estabelecendo três tipos de
confi ança: positiva (aquela em que o contador acredita que a fi rma
preza pelos interesses dos seus colaboradores); a negativa (a entidade
tem histórico de atos de má fé, de não cumprir o acordado, de não
reconhecimento dos colaboradores) e a neutra (quando o superior
hierárquico é indiferente ao resultado do colaborador: bom/ruim). A
conclusão do estudo é que os profi ssionais de contabilidade apre-
sentam alto nível de estresse e, em contrapartida, que requerem o
desenvolvimento da confi ança positiva.
Dois estudos envolvendo profi ssionais de contabilidade investiga-
ram a aplicação de horário fl exível, visando o maior equilíbrio entre
atividades profi ssionais e vida familiar: (1) Lewis (1997) concluiu que
a implantação resultou em colaboradores com maior efi ciência e pro-
dutividade e, em contrapartida, (2) Cohen e Single (2001) identifi caram
que mesmo com a implantação das regras, a cultura empresarial fazia
com que os colaboradores que adotassem o horários fl exível fossem
marginalizados, vistos como os menos propensos à promoção e,
consequentemente, os mais propensos a deixarem a fi rma. Ainda com
o foco no equilíbrio vida/trabalho, Greenhaus, Collins e Shaw (2003)
concluíram que o profi ssional que tem mais proximidade com a família,
registra maior satisfação QVT.
No Brasil, dois estudos identifi cam a satisfação QVT dos profi ssionais
de contabilidade: (1) Paiva (2006) focou seu estudo na cidade de João
Pessoa, usando o Modelo Walton, concluindo que esses profi ssionais
consideram bom o nível de satisfação em relação a quase todas as di-
mensões e, (2) Nunes (2012) focou na cidade de Belo Horizonte, usando
o modelo de Hackman e Oldham, concluindo que esse profi ssional está
satisfeito. Este estudo busca conhecer a satisfação QVT do profi ssional
de contabilidade do RJ por quatro tipos de análise, identifi cando as
dimensões do modelo de Walton mais relevantes.
Os estudos sobre QVT, em geral, têm tratado sobre trabalho/vida;
intenção de desligamento; desenvolvimento/aplicação de modelos
teóricos. Novos estudos podem dar continuidade a esse estudo,
podendo focar em modelo/dimensão específi co, ou, de forma inova-
dora, dentro do contexto das recentes alterações na contabilidade,
averiguar a intenção de partida, ou seja, de mudar de profi ssão, em
função do nível de (in) satisfação QVT.
3. Metodologia
Este estudo busca responder a questão de pesquisa Qual é
a satisfação do profi ssional de contabilidade quanto à qualidade
de vida no trabalho em relação ao biênio 2014-2015? usando o
Modelo de Walton (1973; 1975). O estudo é descritivo com coleta
probabilística por questionário fechado com uma questão aberta.
A elaboração do questionário incluiu uma fase de pré-teste (17-25
jan. 2016) com quatro profi ssionais de contabilidade respondendo
e avaliando o questionário (validade nomológica). Esses profi s-
sionais tinham as seguintes características: (a) homem, contador,
atuante em autarquia; (b) mulher, contadora, atuante em economia
mista; (c) homem, atuação mista como professor em entidade
privada e profi ssional autônomo; (d) mulher técnica atuando
em escritório de contabilidade. O questionário foi elaborado no
GoogleDocs com base no instrumento adaptado por Timossi,
Pedroso, Francisco e Pilatti (2008) com base no Modelo de
Walton. Na parte I do questionário, têm-se cinco questões sobre o
Perfi l Pessoal. Na parte II, três questões sobre o Perfi l Profi ssional
e na Parte III, quatro questões sobre o Perfi l da Entidade. Na Parte
IV, se tem o questionário estruturado em uma escala intervalar
de satisfação com gradações de 1 a 5 (muito insatisfeito a muito
satisfeito). Na Parte Final, há uma questão aberta (comentários,
sugestões e impressões) e um campo para inserção de e-mail ou
de declaração “Prefi ro não me identifi car”.
1.1 Processo de Coleta e Análise dos Dados
A amostra foi construída (16-24 fev.16) com 186 respondentes,
tendo duas exclusões por atuação em outro Estado, restando
184 observações válidas. A maioria optou pela identifi cação do
e-mail (153 observações). O estudo teve apoio do CRC-RJ com
divulgação no boletim às segundas-feiras. Assim, a amostra pode
ser considerada probabilística, já que todos os profi ssionais de
contabilidade do RJ tiveram oportunidade de conhecimento e parti-
cipação. No link da pesquisa, o respondente era incentivo a apoiar
na divulgação. Houve verifi cação e confi rmação de a amostra não
possuía dados duplicados.
1.2 Métodos para Análise dos Dados
Para a análise dos dados foram desenvolvidos quatro tipos de
análise: (1) identifi cação da dimensão selecionada como a mais
relevante; (2) análise descritiva (moda, mediana e média); (3) mo-
delagem de equação estrutural por mínimos quadrados parciais
(PLS-SEM) e (4) análise dos comentários e impressões.
O estudo usa a análise multivariada que envolve a aplica-
ção de métodos estatísticos que analisam simultaneamente
múltiplas variáveis (HAIR et al., 2014). Neste caso, as variáveis
representam a satisfação de profissionais de contabilidade
(técnico/contador) obtidas por um questionário estruturado
em uma escala intervalar de satisfação com cinco gradações
equidistantes, variando de muito insatisfeito a muito satisfeito.
Para a análise de dados foi usada a Modelagem de Equações
Estruturais (Structural Equation Modeling – SEM) por Mínimos
Quadrados Parciais (Partial Least Square – PLS) que pode ser
considerada uma abordagem ampla, estruturada com rigor me-
todológico, tanto teórico quanto quantitativo, buscando explicar
as relações entre múltiplos constructos (variáveis dependentes e
Satisfação do Profi ssional de Contabilidade do Estado do Rio de Janeiro quanto à Qualidade de Vida no Trabalho – QVT (2014-2015):
Uma Análise por PLS-SEM com base no Modelo Dimensional de Walton
Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 18, n. 67, p. 5-14, set./dez. 2016 9
Pensar Contábil
CRCRJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ
independentes). Apesar do modelo de Walton ser muito aplicado,
a escolha do PLS-SEM se dá pelo caráter exploratório da apli-
cação do presente instrumento a profissionais de contabilidade
do Rio de Janeiro quanto à satisfação QVT no biênio 2014-2015.
O PLS-SEM é conceitualmente semelhante ao uso de análise
de regressão múltipla, tendo como objetivo principal maximizar
a variância explicada do constructo dependente (HAIR et al.,
2014). A variável latente endógena (dependente) é o constructo
satisfação QVT referente ao grau de satisfação mais indicado
por cada respondente nas questões. As variáveis latentes exó-
genas (independentes), se referem às oito dimensões do Modelo
de Walton, operacionalizadas em escala reflexiva. Na Figura 1,
apresenta-se o modelo teórico proposto:
Neste modelo, todas as hipóteses estabelecidas entre as variáveis
exógenas e endógena são previstas como positivas e signifi cativas.
Hair et al. (2014, p. 12) explicam que setas simples indicam relação
preditiva e, com o apoio teórico forte, pode ser interpretado como
relações causais. Neste estudo, se tem como apoio teórico o Modelo
de QVT de Walton, possibilitando a consideração de uma possível
relação causal.
2. Análise dos Resultados
2.1 Análise da Seleção da Dimensão Mais Relevante
Uma das questões visava conhecer a dimensão considerada,
de forma direta, como a mais relevante para a sua QVT. Os re-
sultados foram: (1) compensação adequada e justa (51/27,72%);
(2) oportunidade de crescimento (45/24,46%); (3) uso da capa-
cidade (40/21,74%);(4) condições de trabalho (18/9,78%); (5)
Trabalho/vida (12/6,52%); (6) constitucionalismo (7) relevância
social (7/3,8%) e (8) integração social (4/2,17%). Nesta análise,
a compensação adequada e justa foi selecionada pela maioria
dos respondentes como a dimensão com maior relevância sobre
a sua QVT.
2.2 Análise Amostral e Descritiva
A amostra foi composta por 184 respondentes (42,93% mu-
lher/57,07% homem), com idade mínima de 22 e máxima de 73
anos (média: 39,15). Quanto à escolaridade, 13/7,07% apresenta-
ram nível técnico; 68/36,9% graduação; 76/41,3% pós-graduação
lato sensu; 22/11,9% Mestrado e 5/2,7% Doutorado. Quanto à
atuação profi ssional, 153/83,1% têm atuação profi ssional; 5/2,7%
acadêmica e 26/14,1% mista (profi ssional e acadêmica). Em rela-
ção ao perfi l das entidades em que atuam, 99/53,8% atuam em
entidades com objeto contábil e 85/46,2% com outros tipos de
objetos. Por fi m, quanto à origem do capital, 119/64,6% atuam
em entidades de iniciativa privada; 32/17,3% iniciativa pública
e 33/17,9% economia mista. A análise descritiva indicou nível
moderado de satisfação QVT do profi ssional de contabilidade
do RJ com moda e mediana de 3 e média de 3,2. As dimensões
apresentaram as seguintes médias, modas e medianas: integra-
ção social (3,64; 4; 4); constitucionalismo (3,48; 4; 4); uso da
capacidade (3,38; 4; 3); condições (3,16; 4; 3); compensação
(3,01; 3; 3); oportunidade (2,96; 3 3); trabalho/vida (2,94; 3; 3) e
relevância social (2,93; 3; 3). Diferente de Paiva (2006) e de Nunes
(2012) que identifi caram um nível de satisfação QVT bom para os
profi ssionais de contabilidade, respectivamente de João Pessoa e
Belo Horizonte, os resultados deste estudo com profi ssionais de
contabilidade do RJ, identifi cou um nível de satisfação moderado,
e se for considerado concomitantemente com os comentários,
pode se ter a percepção que há um viés negativo, ou seja, poden-
do reverberar, ceteris paribus.
2.3 Análise dos Resultados PLS-SEM
A análise PLS-SEM é composta pela avaliação do modelo
de mensuração e do modelo estrutural (HAIR et al., 2011 apud
NASCIMENTO; MACEDO, 2016), como segue.
2.3.1 Avaliação dos Modelos de Mensuração
Para a avaliação do Modelo de Mensuração (reflexivo), se
tem as seguintes validações: (1) confiabilidade do indicador
(indicator reliability); (2) confiabilidade composta (composite
reliability); (3) validade convergente (convergent validity); (4)
validade discriminante (discriminant validity). O indicador de
confiabilidade (indicator reliability) é obtido via cálculo do
quadrado da carga do indicador (outer loadings) Todos os
indicadores, no mínimo, precisam apresentar significância
estatística, sendo esperados, nesse aspecto, outer loadings
(standardized) superiores a 0,708. Apesar dos itens 1.4 (0,7),
4.3 (0,65), 5.1 (0,65) e 8.1 (0,67) apresentarem cargas externas
inferiores ao piso recomendado, estes itens não foram excluí-
dos porque: (1) item 1.4 tem carga de 0,7 considerado aceitá-
vel; (2) os itens 4.3, 5.1 e 8.1 são próximos ao recomendado;
(3) Estes itens têm forte apoio teórico (Modelo de Walton); (4)
em geral, indicadores com cargas externas entre 0,40-0,70 só
devem excluídos quando significar aumento da confiabilidade
composta acima do limite para validação (HAIR et al., 2014).
Na validação foi confirmado que esses itens não precisam ser
excluídos.
A validação da consistência interna/confiabilidade composta
(internal consistency/composite reliability) foi confirmada por
apresentar valor superior a 0,708 (ref.: 0,6-0,7). A validação
confirma a existência de níveis elevados de consistência interna
nas variáveis latentes por ter valores superiores ao recomen-
dado (0,86). A validade convergente (convergent validity) foi
confirmada pela variância média extraída (AVE) que apresentou
valores superiores ao piso recomendável de 0,5 (BAGOZZI; Yi,
1988; HAIR et al., 2014), indicando ser desnecessário remover
os indicadores com cargas externas ligeiramente menores que
o recomendado. A Validade Discriminante examina o quanto
um constructo é efetivamente distinto de outros. Pelo critério
Figura 1: Modelo Teórico Proposto
Fonte: Os autores.
Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 18, n. 67, p. 5-14, set./dez. 2016
10
Pensar Contábil CRCRJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ
Rosângela M. Ayres, João Carlos Hipólito Bernardes do Nascimento Marcelo Álvaro da S. Macedo
Fornell-Larcker, confronta-se a raiz quadrada da AVE de cada
variável latente frente à correlação entre as demais variáveis la-
tentes, concluindo-se pela existência de validade discriminante
dado que, para todos os construtos, o valor da raiz quadrada de
AVE foi superior às correlações (FORNELL; LARCKER, 1981).
2.3.2 Avaliação do Modelo Estrutural
Para a avaliação do Modelo Estrutural se tem as seguintes
validações: (1) coeficientes de determinação – R2; (2) tamanho
e significância dos coeficientes de caminho; (3) colinearidade
(VIF), (4) tamanhos do efeito – f2; (5) relevância preditiva - Q2;
e (6) tamanhos de efeito – q2 (HAIR et al, 2014). Na tabela 1,
reportam-se os coeficientes de caminho padronizados, valores
t, significâncias, e o R2.
Tabela 1: Coefi ciente de Caminho, Valor “t”, Signifi cância e R2
Coef.
Caminho Valor "t" Sig. R2
01_Compensação
-> Satisfação QVT 0,0082 0,1469 NS 0,705
02_Condições
-> Satisfação QVT 0,1715 2,5092 **
03_UsoCapacidade
-> Satisfação QVT 0,1879 2,4326 **
04_Oportunidades
-> Satisfação QVT 0,2565 3,7681 ***
05_IntegraçãoSocial
-> Satisfação QVT -0,0636 0,7808 NS
06_Constitucionalismo ->
Satisfação QVT 0,3526 3,548 ***
07_Trabalho/Vida
-> Satisfação QVT 0,0674 1,1271 NS
08_RelevânciaSocial
-> Satisfação QVT 0,0542 1,0967 NS
Nota: NS = Não Signifi cante. **p < 2% (t > 2,33) ***p < 1% (t > 2,58).
Fonte: Dados da pesquisa.
O modelo apresenta um R2 substancial de 0,705, validando o
modelo estrutural em relação ao poder explicativo e a acurácia
preditiva. Os coeficientes de caminho são equivalentes ao beta
padronizado na análise de regressão, servindo para indicar a
direção e força da relação entre os constructos, i.e., valores
próximos a zero indicam uma fraca relação (e, em geral, baixa
significância estatística), a proximidade a +1 indica forte relação
positiva enquanto que se próximo a -1, forte relação negativa.
Assim, o coeficiente de caminho serve para indicar a direção e
força da relação entre os constructos (HAIR et al., 2014).
As dimensões compensação e espaço trabalho/vida não se
apresentaram relevância estatística, mas, foram destacadas nos
comentários, e a compensação foi eleita como a dimensão mais
relevante para a QVT. Assim como nos achados de Surienty
et al. (2013), o fator remuneração também não se mostrou re-
levante, mas, no caso deste estudo, a compensação justa foi
destacada nos comentários e foi eleita de forma direta como a
dimensão com maior capacidade de impacto sobre a satisfação
QVT. Quanto à dimensão equilíbrio trabalho/vida, Surienty et
al. (2013) a identificaram como a mais significativa, enquanto,
neste estudo, apesar da não significância, foram destacados nos
comentários.
A força e a direção dos coeficientes de caminho entre as
oito variáveis exógenas (dimensões QVT) e a variável endógena
(Satisfação QVT) e os respectivos valores “t” e a significância
estatística, apresentam os seguintes construtos como significa-
tivos: a 1% [04_oportunidades (cc=0,2565/t=3,7681)/06_cons-
titucionalismo (cc=0,3526/ t=3,548)] e a 2% [02_condições
(cc=0,1715/t=2,5092)/03_usocapacidade (cc=0,1879/t=2,4326).
Uma das linhas de estudo desenvolvidas em QVT investiga o
espaço que o trabalho ocupa na vida. O conceito de equilíbrio é
um aspecto fundamental nesta categoria conceitual A experiên-
cia laboral pode causar efeitos positivos/negativos nas várias
esferas da vida de um indivíduo (WALTON, 1973; 1975). Essa
dimensão tem sido destacada em vários estudos (LEWIS, 1997;
COHEN; SINGLE, 2001; GREENHAUS; COLLINS; SHAW, 2003).
Há evidências que a implantação de programas de flexibilidade
visando favorecer o equilíbrio trabalho/família resultem em
colaboradores mais eficientes e produtivos (LEVIS, 1997), em
contrapartida, conforme a cultura empresarial, os profissionais
que adotem esses programas podem ser menos propensos à
promoção, levando-os posteriormente ao desligamento da fir-
ma (COHEN; SINGLE, 2001). Neste estudo, essa dimensão não
se apresentou significante, mas, nos comentários houve relatos
quanto à insatisfação com a dedicação de tempo que deveria
ser para a família, ao trabalho/aprimoramento, encontrando
alguma relação com Greenhaus, Collins e Shaw (2003) sobre
a maior QVT nos profissionais com maior proximidade familiar.
Considerando as dimensões estabelecidas por Walton (1973;
1975): (1) a dimensão constitucionalismo refere-se à proteção
dos empregados de ações arbitrárias dos empregadores, tendo
na força sindical a sua maior expressão, buscando garantir
privacidade; liberdade de expressão; tratamento igualitário, e
processo legal; (2) a dimensão oportunidade refere-se à capaci-
dade que as atribuições laborais e educativas têm em contribuir
com as capacidades pessoais, afastando a sensação de obso-
lescência; expectativa de uso de habilidades e conhecimentos
em possíveis atribuições futuras; oportunidade de crescimento
ou de ser reconhecido pelos pares e familiares, e de segurança
quanto à empregabilidade ou quanto ao nível de remuneração;
(3) o uso da capacidade indica que o grau em que o profissio-
nal usa e desenvolve suas habilidades e conhecimentos afeta o
envolvimento, a autoestima e a sensação de desafio conforme
a autonomia; as multi-habilidades permitindo o aprendizado e a
prática de diversas competências; conhecimento e participação
do processo como um todo, conscientizando-se do seu papel,
podendo participar do planejamento e ser avaliado por seu
desempenho; (4) a dimensão Condições de trabalho segura e
saudáveis refere-se ao estabelecimento de normas e compro-
missos, garantindo que os trabalhadores não sejam expostos a
perigos e riscos indevidamente. Com base nessas descrições,
pode se interpretar esses resultados como indicação de que
quando avaliado de forma indireta por constructos, os respon-
dentes demonstram que outras dimensões são relevantes para
sua QVT.
A relevância do constitucionalismo apoia os resultados de
Comish, Swindle e Daboval (1994) de que os profi ssionais de
contabilidade esperam aplicação de normas justas que conside-
rem as necessidades dos colaboradores (confi ança positiva). A
signifi cância estatística das dimensões constitucionalismo, opor-
tunidades, uso da capacidade e condições indicam que a variação
nessas dimensões tem infl uência na variação da satisfação QVT
para os profi ssionais de contabilidade do Rio de Janeiro. Assim,
os resultados desta pesquisa podem ser usados, por exemplo,
para o desenvolvimento de políticas para melhorar a QVT desses
profi ssionais, tendo foco especial nessas dimensões.
A inexistência de problema de colinearidade (VIF) foi consta-
tada no GRETL pela obtenção de VIF inferiores a 3 (HAIR et al.,
2014). Pelo tamanho do Efeito f2, pôde-se validar que o poder
explicativo do modelo resulta de forma preponderante da ação
Satisfação do Profi ssional de Contabilidade do Estado do Rio de Janeiro quanto à Qualidade de Vida no Trabalho – QVT (2014-2015):
Uma Análise por PLS-SEM com base no Modelo Dimensional de Walton
Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 18, n. 67, p. 5-14, set./dez. 2016 11
Pensar Contábil
CRCRJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ
conjunta das variáveis exógenas, não tendo uma variável com
efeito muito superior às demais (HAIR et al., 2014) porque seus va-
lores [Condições (0,044) ; Uso Capacidade (0,044); Oportunidades
(0,092); Constitucionalismo (0,122) com efeito pequeno e as
variáveis Compensação (0); Integração Social (0,007); Trabalho/
Vida (0,01) e Relevância Social (0,01)] foram menor que o consi-
derado pequeno (0,02). O valor Q2 indica a relevância preditiva do
modelo em um processo iterativo. Neste estudo, obteve-se como
Q2, 0,6918 (1-SSE/SSO), demonstrando que o modelo estrutural
tem uma boa capacidade preditiva por ser superior a zero. Na
validação do efeito q2, observou-se que, exceto pela variável
Integração Social, que tem valor considerado pequeno, todas as
demais variáveis individualmente têm valor menor que pequeno,
levando à conclusão (HAIR et al., 2014) que o valor da relevância
preditiva resulta da ação conjunta de todas as variáveis.
2.3.3 Análise de Múltiplos Grupos
A análise multigrupos é usada para comparar os parâmetros en-
tre grupos e a possibilidade de uma amostra apresentar resultados
moderados, pela composição de resultados opostos extremos em
subamostras. Considerou-se essa análise especialmente útil para
os grupos: Técnico/Bacharel; Iniciativa Pública/Privada e Mulher/
Homem. Os resultados apresentaram diferença estatística na va-
riável exógena Integração Social. Nesta dimensão, Walton (1973;
1975) destaca os seguintes aspectos: ambiente livre de preconceito
com a aceitação do trabalhador pelas características relacionadas
as suas habilidades profi ssionais, desconsiderando raça, sexo, cre-
do, origem, estilo de vida e aparência física; tratamento igualitário
com mobilidade para que os colaboradores possam se desenvolver
e ascender, apoio sócio-emocional, e afi rmação da singularidade
de cada indivíduo; assim como, o desenvolvimento do senso de
comunidade ; abertura interpessoal para ideias e sentimentos de
seus membros. Os resultados apresentaram coefi ciente de cami-
nho com maior força (0,22) no grupo de profi ssionais atuantes em
entidade pública e para o grupo homem de (0,27). Por esse resul-
tado, se estabelece hipóteses que podem ser objeto para novas
investigações: profi ssionais da iniciativa privada e o grupo formado
por mulheres têm a dimensão integração social com menor força
sobre a satisfação QVT. Esta hipótese pode indicar que esses dois
grupos se ressentem de um ambiente livre de preconceito, com
tratamento mais igualitário e possibilidade de ascensão em função
de sua habilidade profi ssional.
2.4 Análise dos Comentários e Impressões
O questionário incluía uma questão aberta, sendo registrados 67
(36%) comentários, impressões e sugestões. Os pontos mais des-
tacados foram: compensação, carga de trabalho, relevância social
e espaço trabalho/vida, principalmente em função da necessidade
de capacitação imediata e contínua pelas constantes alterações
(e.g.: harmonização à contabilidade internacional e implantação
das fases do SPED). Esse contexto tem levado o profi ssional de
contabilidade a dedicar mais tempo à profi ssão do que à família
e ao lazer, podendo acarretar em distúrbios na saúde. Alguns res-
pondentes destacaram a importância de desenvolvimento de es-
tudos acadêmicos (como o presente) para o acompanhamento do
impacto desses aspectos no profi ssional. Destaca-se, a seguir, um
texto elaborado por um respondente que, de certa forma, resume
os comentários feitos pelos demais:
1. Quanto maior o nível hierárquico ocupado ou o nível
de complexidade das atividades desenvolvidas pelo
profi ssional, maior o nível de stress, pressão e por
vezes até piora na qualidade de serviços em função
de sobrecarga de atividades e serviços.
2. Os profi ssionais que trabalham na área fi scal são
mais pressionados. Essa é uma das áreas mais
assediadas em função da economia tributária, onde
os administradores e empresários buscam a cada dia
pagar menos tributos, sem muitas vezes atentar para
licitude dos atos que desejam colocar em prática.
Isso, muitas vezes coloca os profi ssionais em
situação complicada, pois precisam agir conforme as
legislações tributárias aplicáveis àquelas atividades
econômicas, mas também precisam se manter
empregados.
3. A questão de logística, principalmente locomoção,
também é um fator que está suprimindo em muito a
qualidade de vida de todos os profi ssionais, e como
os contabilistas normalmente possuem horário de
entrar na empresa, mas não horário de sair, isso piora
ainda mais a situação de qualidade de vida. Com
salários não tão atraentes, e relativamente baixos,
existe difi culdade em se morar próximo ao local de
trabalho, em função dos altos custos de moradia em
locais próximos aos grandes centros de negócios.
4. A iniciativa privada tende a sobrecarregar mais
os profi ssionais do que a iniciativa pública, onde
a primeira concentra inúmeras áreas e atividades
diversifi cadas em um único indivíduo, enquanto
que a segunda já é mais distributiva em atividades
e costuma ter maior número de funcionários que o
primeiro grupo. Mas a iniciativa privada costuma
estimular mais o aprendizado por treinamentos e o
desenvolvimento de multitarefas pelos funcionários,
enquanto que a iniciativa pública costuma ser mais
restrita nesse campo em função da limitação de
recursos.
5. A questão da discriminação de profi ssionais por
aparência, raça, nível social, sexo, etc., também é
muito mais evidente na iniciativa privada do que
na pública, onde a última utiliza como processo
seletivo, meios mais objetivos de escolha dos
profi ssionais que as empresas privadas. Isso
também contribui para piora da qualidade de vida
de muitos profi ssionais, que levam muito mais
tempo para se recolocar no mercado de trabalho
do que outros mais privilegiados por características
pessoais e sociais mais favorecidas. Os menos
favorecidos acabam aceitando subempregos
(abaixo de sua capacidade intelectual) por que
são rotulados como candidatos que não se
encaixam no perfi l ou padrões estabelecidos
por certas empresas privadas (que não medem
somente fatores objetivos de escolha).
Na análise desses comentários, pode se encontrar o alto nível de
estresse identifi cado por Comish, Swindle e Daboval (1994) como
a condição física e mental que afeta a produtividade, efetividade,
saúde pessoal e a qualidade do trabalho, assim como, a necessida-
de de cumprimento de regras justas, estabelecidas como confi ança
positiva por esses autores e como constitucionalismo no Modelo
de Walton. Mas, alguns pesquisados fi zeram questão de enfatizar
o orgulho na profi ssão. Na maioria dos comentários, os responden-
tes demonstram confi ança que o CRC-RJ pode contribuir para o
desenvolvimento da profi ssão e da satisfação dos profi ssionais de
contabilidade.
3. Considerações Finais
O presente estudo teve como objetivo avaliar a satisfação dos
contabilistas quanto à qualidade de vida no trabalho (QVT) no biênio
2014-2015, respondendo a questão: Qual é satisfação do profi ssional
de contabilidade quanto à qualidade de vida no trabalho em relação
Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 18, n. 67, p. 5-14, set./dez. 2016
12
Pensar Contábil CRCRJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ
Rosângela M. Ayres, João Carlos Hipólito Bernardes do Nascimento Marcelo Álvaro da S. Macedo
ao biênio 2014-2015? Para responder a essa questão, foram desen-
volvidas quatro análises: (1) identifi cação da dimensão selecionada
como a mais relevante; (2) análise descritiva (média, moda e media-
na); (3) modelagem de equação estrutural por mínimos quadrados
parciais (PLS-SEM) e (4) análise dos comentários e impressões.
Ao se fazer a revisão da literatura, se identifica uma importan-
te evidência: os estudos sobre a QVT do profissional de conta-
bilidade são escassos. Diante desta evidência e considerando o
contexto atual de frequentes alterações com possíveis impactos
na QVT, e adicionalmente, a importância deste profissional para
a economia nacional, tem-se a primeira conclusão deste estudo:
há oportunidade para a criação de uma agenda de pesquisa
que busque o desenvolvimento de trabalhos com esse foco. Por
exemplo, tendo este trabalho como referência, novos estudos
podem ser realizados a cada biênio para conhecer melhor este
objeto e a sua evolução ao longo do tempo, assim como se utili-
zando de outros modelos teóricos ou focando em uma dimensão
específica como a avaliação do espaço do trabalho na vida do
colaborador ou a relação da intenção de abandono em função
da QVT. Uma investigação interessante seria, considerando o
contexto de frequentes alterações, conhecer o grau de dispo-
sição que os profissionais de contabilidade têm para mudar de
profissão. Enfim, uma agenda de pesquisa poderia gerar uma
multiplicidade de conhecimento aprimorando métodos, modelos
e técnicas para este tipo de investigação.
Quanto às quatros análises realizadas neste estudo, na
análise da dimensão tida como mais relevante para o QVT, os
respondentes elegeram a dimensão compensação adequada é
justa. Essa seleção pode ser justificada por Walton (1973; 1975)
quando estabelece que essa dimensão está relacionada ao
ímpeto natural para se trabalhar, ou seja, se espera receber a
remuneração adequada ao trabalho desempenhado e justa em
relação a outras atividades.
Portanto, quando perguntado de forma direta, a maioria dos
respondentes considerou a compensação como a com maior
potencial de impacto sobre sua QVT. Na análise descritiva, há a
indicação de satisfação QVT moderada com moda e mediana 3
e a média 3,2 (escala intervalar 1-5), tendo a compensação apre-
sentado moda e mediana 3 e média 3,01; aparecendo sem rele-
vância estatística na análise PLS-SEM e, depois, sendo indicada
com insatisfação nos comentários. Alguns estudos e modelos
não apresentam a dimensão compensação como relevante, por
exemplo, no estudo de Surienty et al. (2013), o fator remuneração
não apresentou significativa com relação à decisão de demissão.
Uma interpretação possível para os resultados nas quatro
análises para a dimensão compensação pode ser a seguinte:
as avaliações quanto à satisfação desta dimensão podem ser
mais rígidas em função da relevância indicada pela maioria dos
profissionais e, assim, a variação nesta dimensão precisam ser
maiores para influenciar a satisfação QVT. Outra leitura possí-
vel é que ao responderem de forma racional e consciente, os
respondentes indicam a compensação como a com maior ca-
pacidade de impacto na sua QVT, mas, de forma indireta pelos
constructos, há a identificação de que a variação em outras
dimensões pode influenciar a variação na satisfação QVT. Neste
estudo, há a identificação no PLS-SEM das seguintes dimensões
com relevantes: constitucionalismo (0,35/1%); Oportunidade
(0,25/1%); Uso de Capacidade (0,18/2%) e Condições de traba-
lho (0,17/2%).
Este modelo estrutural apresenta R2 de 0,705, demonstrando
que o modelo tem alto poder explicativo das variáveis exóge-
nas para com a variável endógena Satisfação QVT, tendo-se a
validação por diversos procedimentos indicados pela literatura,
demonstrando que o modelo pode ser usado para estimação,
predição e análise.
A significância estatística dessas dimensões
(constitucionalismo, oportunidades, uso de capacidade e condi-
ções) indica que as variações nestas dimensões têm influência
positiva na variação da satisfação QVT dos profissionais de con-
tabilidade do Rio de Janeiro. Portanto, em principio, alterações
nos aspectos relacionados a essas dimensões podem influenciar
a satisfação QVT.
Pela a análise dos comentários, se identifica uma insatisfa-
ção relevante com relação à relação à valorização em função
da compensação justa e ao crescente aumento de trabalho e
responsabilidade, sendo feita especial referência, tanto a com-
plexidade pelas alterações na contabilidade financeira, quanto
pela implantação das várias fases do SPED na contabilidade
tributária, requerendo desenvolvimento profissional imediato e
contínuo crescente, exigindo desses profissionais a dedicação
de maior tempo à profissão do que à família, sendo, inclusive,
mencionado distúrbios na saúde por este contexto.
Pode-se concluir que, dentro desse contexto em que é relata-
do os comentários, há um sentimento de desvalorização, tem-se
na análise PLS-SEM, a indicação que a satisfação com QVT é
influenciada por: oportunidades de desenvolvimento, regras
justas, condições adequadas e a possibilidade de utilização
da capacidade nas atividades profissionais. Por outro lado, as
dimensões integração social, compensação justa, trabalho/vida
e relevância social não se apresentaram como influentes na QVT
desses profissionais. Nos comentários, se percebe um certo cla-
mor em relação a valorização, compensação e reconhecimento,
mas com um certo tom de desesperança e de desconfiança de
que algo posso melhorar nesses aspectos. Mas, ao mesmo tem-
po, há várias menções sobre a confiança que o CRC-RJ possa
influenciar na evolução desses processos e, consequentemente,
da satisfação da classe.
Em averiguações complementares, buscou-se confirmar
que o resultado não era uma compensação entre resultados
extremos de grupos de subamostras. Os seguintes grupos foram
avaliados: Técnico/Bacharel; Iniciativa Pública/Privada e Mulher/
Homem. Os resultados demonstraram a inexistência de dife-
renças estatisticamente extremas entre os grupos, exceto para
a dimensão integração social nos os grupos iniciativa pública/
privada e mulher/homem, apresentando coeficiente de caminho
com maior força (0,22) no grupo de profissionais que atuam em
entidade pública do que na entidade privada (0,17), e no grupo
homem (0,27) em relação ao grupo de mulheres (0,12). A for-
ça destes dois coeficientes de caminho encontra respaldo em
alguns comentários registrados, indicando a insatisfação com
várias características da iniciativa privada em comparação com
a pública. Situação similar ao resultado dos grupos mulher/ho-
mem que também tem o respaldo em comentários sobre a falta
de tratamentos igualitários e possibilidade de ascensão pelas
habilidades profissionais para mulheres que são profissionais de
contabilidade. Por esse resultado, se estabelece hipóteses que
podem ser objeto para novas investigações: profissionais da ini-
ciativa privada e o grupo formado por mulheres têm a dimensão
integração social com menor força sobre a satisfação QVT. Esta
hipótese pode indicar que esses dois grupos se ressentem de um
ambiente livre de preconceito, com tratamento mais igualitário
e possibilidade de ascensão em função de suas habilidades
profissionais.
Os resultados deste estudo podem ser utilizados como um
marco para o desenvolvimento de uma agenda de pesquisa que
busque contribuir no desenvolvimento de modelos e instrumen-
tos mais adequados para se conhecer a QVT do profissional de
contabilidade. Inclusive, no caso dos profissionais de contabili-
dade do RJ, tendo as hipóteses estabelecidas neste estudo. No
caso das entidades profissionais, como conselhos, associações
e sindicatos, os resultados deste estudo podem contribuir para o
desenvolvimento de políticas que visem melhorar a QVT desses
Satisfação do Profi ssional de Contabilidade do Estado do Rio de Janeiro quanto à Qualidade de Vida no Trabalho – QVT (2014-2015):
Uma Análise por PLS-SEM com base no Modelo Dimensional de Walton
Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 18, n. 67, p. 5-14, set./dez. 2016 13
Pensar Contábil
CRCRJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ
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profissionais, buscando focar, por exemplo, na variação da quali-
dade em relação às oportunidades de desenvolvimento, a justiça
(constitucionalismo), as condições de trabalho adequadas e a
possibilidade de utilização da capacidade nas atividades profis-
sionais. Adicionalmente, os resultados da análise multigrupos,
pode contribuir para o desenvolvimento de políticas que buscam
a promoção de ambientes livres de preconceitos quanto a raça,
sexo, credo, origem, estilo de vida, aparência física.
Foi identificado que a delimitação do estudo pode ter signi-
ficado uma limitação ao excluir profissionais que estão fora do
mercado há mais de dois anos e, assim, poderiam contribuir
com informações diferentes quanto a QVT de profissionais de
contabilidade no Estado do Rio de Janeiro no biênio 2014-
2015. Alguns respondentes entraram em contato informando
que achavam a pesquisa interessante, mas, que não a respon-
deriam porque não estavam no grupo foco da pesquisa. Então,
sugere-se que trabalhos futuros busquem incluir profissionais
nesta condição para que o nível de satisfação destes também
seja investigado.
Como comentários finais, é importante destacar a satis-
fação na realização deste estudo, primeiro pela possibili-
dade de conhecer melhor uma classe tão importante para o
desenvolvimento econômico de um país, já que o resultado de
seu trabalho pode ter o condão de contribuir com a captação
de investimentos resultantes de demonstrações contábeis bem
elaboradas. Essa importância para o desenvolvimento da eco-
nômica de um país pode ser exemplificada pelo estudo desen-
volvido por Surienty et al. (2013). Outro ponto, de satisfação, foi
a generosidade do CRC-RJ, em divulgar o questionário; assim
como dos profissionais de contabilidade do Rio de Janeiro
que, não só responderam a pesquisa, dedicando pelo menos
cerca de dez minutos do seu tempo, mas, que também con-
tribuíram com comentários, impressões e sugestões valiosas,
adicionalmente, enviando e-mails de incentivo para a realização
desta pesquisa. Então, registra-se especial agradecimento ao
CRC-RJ e aos profissionais contadores que participaram da
pesquisa. Ainda quanto à participação dos profissionais de
contabilidade, especial agradecimento aos quatro profissionais
que responderam e avaliaram o questionário na fase de pré-
teste e que, assim, não participaram da pesquisa. Os resulta-
dos das pesquisas também são motivo de satisfação, porque
contribuem, ainda que de forma incipiente, para se conhecer à
satisfação dos profissionais de contabilidade do Rio de Janeiro
em 2016, em relação ao biênio 2014-2015.
Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 18, n. 67, p. 5-14, set./dez. 2016
14
Pensar Contábil CRCRJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ
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